Uma memória do Zaire

Era o que se chama uma cidade requintada dentro da cidade de Kinshasa, no antigo Congo Belga, atual Zaire. Tínhamos tudo. O principal para mim era a piscina, em redor da qual faziam festas com música ao vivo e com vários manjares como o barbecue, marché ou poissons.

Junto da brasserie estava a payote com as suas cabanas de palha, características de África, ligada à pizzaria. Dentro do Hotel, havia um grande átrio onde se tomava o café e o pequeno-almoço inglês. Estava colado às várias lojas e ao pub, e era por baixo da discoteca e perto do casino. Tudo isto era onde vivia uma espécie de núcleo de pessoas distintas a conviver em conjunto e de origens diferentes. Por vezes, saíamos entre nós para ir de barco, pelo rio Zaire, visitar as ilhas. Noutras alturas, íamos de carro com um chauffeur, tanto para a escola de francês, como para um restaurante, ou para qualquer outro lugar em Kinshasa, onde tínhamos de pagar com dinheiro, que era também o Zaire, que levávamos dentro de autênticas malas.

É incrível o espectáculo que a cidade de Kinshasa era, chegando ao ponto de só me apetecer dar notas aos miúdos que iam a correr atrás do carro.

Entre nós, falávamos diversas línguas, como o francês, o inglês e o português.

Na minha festa de anos, adorei convidar os nossos amigos mais chegados. Na altura, tinha 30 anos, e daí conhecer a nossa famosa baba de camelo, a qual leva leite condensado e ovos. Deliciosa!

A sensação que eu tinha era que estava no paraíso, onde o céu estava muito perto da terra e ao horizonte: a selva impressionante, os bichos gigantescos e um calor que emanava de todo o lado.

Tudo se passava numa espécie de afronta, pois os africanos, algumas vezes, tiravam e invadiam tudo, o que era um bocado incompreensível. Nesses momentos, já estávamos todos preparados para abraçar o rio que separava Kinshasa de Brazzaville, em caso de pilhagens.

África deixa-me ótimas lembranças e inúmeras saudades, embora o meu país de coração seja Portugal.

Manuela Silva